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23/04/2008

Como não falar do caso Isabella?

Por Felipe Ananias


Uma menina de seis anos é atirada do sexto andar (20 metros de altura) de um prédio em São Paulo e morre. O pai corre para socorrer a filha, a madrasta avisa a mãe da menina que chega em minutos, pronto! O circo está armado.
São repórteres na porta da delegacia, entrevistas exclusivas, curiosamente cedidas somente a Rede Globo, detalhes dos relatórios da perícia, outros canais ao vivo durante horas cobrindo o dia de depoimento dos pais acusados, das testemunhas chaves e até o povo, aquele que trabalha todos os dias, apareceu e ficou na platéia como em uma partida de futebol.
Claro que todos estamos chocados com o fato ocorrido. Quem poderia cometer tal atrocidade com uma menina indefesa, de apenas seis anos? Compartilhamos e chegamos até a imaginar a dor dos parentes, isso tudo é normal! Mas calma, existem outras coisas acontecendo em nosso país, a morte de uma menina não pode se tornar um "reality show" jornalístico ou coisa parecida.
É muito importante descobri os culpados sim, mas tenho a impressão de que a mídia já condenou o pai da menina Isabella e a madrasta. Todas as provas levam a crer que foram os mesmos, mas não foi provado a culpa dos dois. São supostamente culpados.
Por isso não concordo com este "circo" montado pela imprensa que simplesmente não fica um dia sem especular algum fato ou só dar uma nota, diariamente morrem no Brasil, segundo dados de pesquisa da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e vejam, estamos falando só do trânsito - 55 pessoas em acidentes. Sim o caso de Isabella é chocante,comovente, eu sei disso, mas vamos cuidar das nossas vidas também, será que serei obrigado a todos os dias ler um jornal com :"acharam um risco vermelho na parede do apartamento em que Isabella foi atirada"?
O crime do modo como foi vende muito jornal, da muito ibope, mas vamos falar também de quantas pessoas já morreram de dengue no Rio de Janeiro. Porque nenhum repórter vai a porta da casa de uma mãe que perdeu seu filho vítima da dengue por causa da ineficácia dos hospitais públicos. Estas mortes também tem desdobramentos, "culpados", entre outras. Mas, estas não vendem, infelizmente. Eu, um futuro jornalista, me assusto, ao ver a imprensa com esse olhar, totalmente pautada com à visão do norte.Que pena!

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