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O relógio marcava 18h20min horário de Brasília, na cidade de São Paulo. Para muitos paulistanos, isso significa voltar para casa. Cada um da sua forma, a minha até a faculdade é o trem.
Desço as escadas para posicionar-me ao embarque e, de cima, na parte que dá acesso as plataformas, vejo aquela multidão que o espera, para quem não tem o costume de utilizá-lo, isso significa que está atrasado.
Assim como eu, grande parte da população teve um dia cheio de trabalho, seja ele braçal, subindo aqueles enormes prédios arduamente, ou mentalmente, que é meu caso, pois sou estagiária em uma assessoria de imprensa. Os dois trabalhos exigem seus respectivos esforços e no final do dia o mesmo desejo. Go to home!
Nesta segunda-feira, parcialmente nublada na estação Berrini, zona sul da cidade, ele chega. A população começa a se ajeitar para adentrá-lo, quando tomo sua visão de fora para dentro, percebo que a lotação dentro dos vagões afirma que REALMENTE ele estava atrasado.
Não foi muito complicado conduzir-me, pois todos fizeram isso por mim. Caso até cientifico, pois meu cérebro não enviou comando algum para que minhas pernas se movessem, incrível! Proponho até uma tese de mestrado ou doutorado sobre tal fato. A demanda era tão grande que eu imaginei onde que ficavam todas aquelas pessoas distribuídas nas empresas ao redor da estação, Surpreendente!
Senti-me em um filme, pois os trens da linha Osasco – Jurubatuba, por estarem localizados na zona nobre da metrópole são mais conservados e embalados ao som de grandes sinfonias clássicas. Pense. Enquanto todos eram jogados – aqueles que conseguem ser jogados para algum lugar – pelos lados das comportas do veículo, inclusive eu, a música clássica se exaltava e dava uma vida absurda à cena. Esqueci-me até que era um ser normal, afinal sentia-me como uma grande estrela de Hollywood, pois tamanho era o espetáculo. Tendo como gancho o Oscar, que aconteceu neste último domingo, tenho certeza que José Serra, governador de São Paulo e responsável pelo “avião” do trabalhador, seria premiado com todas as honrarias.
Senhores, senhoras e jovens, enfim, ali ninguém tinha RG e CPF, somente um destino e, em sua maioria, Presidente Altino. No entanto, até chegar lá, muitos apertados, outros deixados para trás e os que conseguiram entrar, como nós, formávamos um grande encaixe do falecido brinquedo Lego. Perfeito! Ali tive a certeza do que cientistas dizem: O ser humano é o único animal que se adapta a qualquer habitat no mundo.
Ah! Chegamos a tão esperada estação! Óbvio colegas, que recomeçaram os empurras – empurras, mas agressivos que as manifestações anteriores. Nesta cena, comparo-a com uma cela aberta e um monte de cavalos ansiando por liberdade. Como sou uma égua temente a alguns tipos de liberdade, fiquei com receio de não poder mais respirar essa tal liberdade e ser atirada naquele enorme vão que separa o trem da plataforma. Optei em ficar ali mesmo, no trem, a próxima estação me serve mesmo!
Depois de muito tempo na estação, os cavalos de várias raças, enfim conseguiram sair e deixaram que as portas das celas fossem fechadas e seguimos finalmente para Osasco, a última estação e meu ponto final. Confesso que nunca fiquei tão feliz em ver tanto espaço em um local. Aquele vazio no vagão me fez sentir como uma égua de raça, pois eu sentia o vento do ar-condicionado batendo no meu rosto e tinha vontade de correr de um lado para o outro, afinal espaço tinha de sobra.
Cheguei! Não acredito! Agora meu outro trem até Julio Prestes. Sentei, mas que prazer, nunca senti tamanho prazer. E por fim, me dediquei a este enredo de palavras narradas de uma história incrivelmente hollywoodiana de uma estudante que depende dos serviços estatais de transportes.Em suma meus caros, digo em nome de todos que estavam ali, naquela enorme lata cheia de sardinhas – ou cavalos como preferirem – valemos R$2,40 e somos as mercadorias transportadas todos os dias com tanto descaso. Faz algum sentido esses aumentos? Não vi melhoria alguma nos R$0,10 que aumentaram nos meus gastos e ainda não visualizei possíveis reajustes na melhoria dos transportes. E ainda querem que eu acredite nisso: Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil.
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